quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Bonito.

Todo fingimento é torto.
E quando a gente finge
não ter no coração o que
não pode ser dito?
Esse fingimento é bonito.
E nesse engano a gente
erra a conta e esquece
que melhor seria não ter fingido.
De repente se dá conta e vê:
Melhor seria não ter no coração
aquilo que não se pode dizer.

Sobre saudade.

Aquele lugar vazio, o mundo girando e eu sem saber quem sou.
Eu me refaço, desfaço e acabo por ser prisioneiro teu,
atrás das grades, sem direito a banho de sol.

Aonde a lágrima molha o papel eu vejo a loucura perdurar.
Movimento bruscos com o lápis na busca desesperadora por sanidade.

Sim, novamente aquela taça de vinho, 
aquela música fodida e aquele sonífero pra tomar.

Como um tolo guardo o nosso retrato, 
seu lugar na cama e a mesa pra nós dois.

Solidão, solidão, hoje és tu que me faz companhia, 
não importa quem esteja ao meu lado.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Fernando Pessoa


Quando nós poderemos nos encontrar a sós em qualquer parte, meu amor? Sinto a boca estranha, sabes, por não ter beijinhos há tanto tempo... Meu bebê para sentar ao colo! Meu bebê para dar dentadas! Meu Bebê para... (e depois o Bebê é mau e bate-me...) "Corpinho de tentações" te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim.
 Bebê vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho... Vem... Estou tão só, tão só de beijinhos...
 Quem me dera ter a certeza de tu teres a saudades de mim a valer.  Ao menos isso era uma consolação... Açoites é que tu precisas;
Um beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu. 

Fernando Pessoa


   O tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou.
   Estas cousas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?
   Quanto a mim... O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não a esquecerei nunca, CREIA! Nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Pode ser que me engane, e que estas qualidades; que lhe atribuo, fosse uma ilusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lhe as atribuísse.
   Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles. Fiquemos um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
   Que isto de "outras afeições" e de "outros caminhos" é com você, Ophelinha, e não comigo.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.

Olavo Bilac


Amei-te no primeiro dia em que te vi: amei-te em silêncio,em segredo,sem esperança de te possuir e sem refletir. Não quis saber quem eras, nem quis saber se poderias me amar: amei-te e amo-te cada vez mais.
Olavo Bilac

Sem resposta.


Porque tu escolhes a mim? O que EU tenho que ela não tem?
Será que é porque eu te escuto, dou opiniões sobre seus assuntos favoritos, cuido de você e quero saber realmente como foi o seu dia?
Será que é porque eu me expresso de uma forma explicita, te chamo pra olhar as estrelas comigo ou do meu bom humor nas horas trágicas?
Será a minha mania de te fazer entender que o amor pode ser eterno sem a pessoa estar presente pra sempre ou serão as minhas taras loucas?
Será a minha admiração pelas suas mãos ou o meu jeito meio doido de ser?
Será que é o meu olhar que sempre desvia, o meu sorriso que te encanta ou o fato do meu cansaço nunca chegar?
Serão as minhas mensagens antes de dormir, as besteirinhas que eu te falo ou porque eu insisto em te mimar toda hora?
Só que nada disso te faz ser meu, nada disso é importante se você me usar só pra te suprir. Ah o que ELA tem que eu não tenho? (Tempo, suas memórias)
Querido, diga que gosta de mim, que sente a minha falta, que quando somos um só é incrível...  Diga que sem mim vai te faltar algo. Faz ao menos, por fingires bem.

Fora do Berço



Querida progenitora, entenda de uma vez:
Eu não sou e nem quero ser o que você espera de mim.
Se ainda não sabes, te admiro muito pouco e tento, ao máximo,
Não ter semelhanças com o ventre de onde eu vim.

Querida Progenitora, tentativa frustrante essa sua,
De querer que eu seja cega e surda, assim como você
Eu gosto é de muitos casos, estórias pra contar
E aprenda: Do seu berço, eu quero é longe ficar

Querida Progenitora, seja querubim
Abre espaço, de verdade, deixa-me ser livre nas minhas escolhas
E apenas fique do meu lado quando elas não forem tão boas assim.

Querida Progenitora, não me importa sua decepção
Tentar machucar é perca de tempo, pois nenhuma palavra
Por mais forte que seja penetrará na armadura do coração.