O tempo, que envelhece as faces e os
cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A
maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o
hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente
feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da
possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando
o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele
deixou.
Estas cousas fazem sofrer, mas o sofrimento
passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a
dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?
Quanto a mim... O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não a esquecerei
nunca, CREIA! Nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a
sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Pode ser que me engane, e
que estas qualidades; que lhe atribuo, fosse uma ilusão minha; mas nem creio
que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lhe as atribuísse.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é
sempre reles. Fiquemos um perante
o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando
meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos,
conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo
e inútil.
Que isto de "outras afeições" e de
"outros caminhos" é com você, Ophelinha, e não comigo.
Não é necessário
que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como
eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.
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